Uma opinião sobre o pós 25 de Abril
Alguém escreveu o seguinte sobre a "liberdade do pós 25 de Abril";
"...Sol de pouca dura. Passado o momento de euforia, a realidade voltou negra e desalentadora: as prisões encheram-se de novo, as ambições recalcadas vieram à tona, os lugares pingues foram assaltados, a medriocidade instalou-se, uma má consciência de efeitos retroactivos começou a roer-nos. Numa percepitação de culpados, pusemos fim à guerra sem condições e iniciamos uma descolonização insensata. Nenhum dos legítimos interesses da população foi acautelado. As populações ultramarinas desamparadas, num momento instintivo de pânico, atravancaram a pequena casa lusitana. De avião e de barco, desembarcavam aos montes, famintas, desirmanadas, com a roupa do corpo por única riqueza. Era como que um refluxo insólito da história.
E foi a derrocada. Ainda seguros de nós na véspera, acordávamos estremunhados num mundo de perplexidades. Que grandeza tinha o passado? Que significação tinha o presente? Que sentido tinha o futuro? Sem pontos de referência comuns, ninguém se reconhecia no espelho dos valores gregários. As estruturas mais elementares do tecido social davam de si. Nenhum acto individual ou colectivo parecia ser realizado no seio de uma comunidade adulta."
Miguel Torga.
"...Sol de pouca dura. Passado o momento de euforia, a realidade voltou negra e desalentadora: as prisões encheram-se de novo, as ambições recalcadas vieram à tona, os lugares pingues foram assaltados, a medriocidade instalou-se, uma má consciência de efeitos retroactivos começou a roer-nos. Numa percepitação de culpados, pusemos fim à guerra sem condições e iniciamos uma descolonização insensata. Nenhum dos legítimos interesses da população foi acautelado. As populações ultramarinas desamparadas, num momento instintivo de pânico, atravancaram a pequena casa lusitana. De avião e de barco, desembarcavam aos montes, famintas, desirmanadas, com a roupa do corpo por única riqueza. Era como que um refluxo insólito da história.
E foi a derrocada. Ainda seguros de nós na véspera, acordávamos estremunhados num mundo de perplexidades. Que grandeza tinha o passado? Que significação tinha o presente? Que sentido tinha o futuro? Sem pontos de referência comuns, ninguém se reconhecia no espelho dos valores gregários. As estruturas mais elementares do tecido social davam de si. Nenhum acto individual ou colectivo parecia ser realizado no seio de uma comunidade adulta."
Miguel Torga.
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